Após a colheita do algodão é obrigatório realizar a destruição da soqueira da planta com objetivo principal de controlar ervas daninhas e interromper o ciclo biológico de pragas e doenças na área de cultivo. No entanto é uma prática que pode ser desafiadora, como comenta o gerente técnico da J&H Sementes, Rinaldo Grassi:
“Destruição de soqueira é um manejo um pouco complicado de se fazer na prática porque a efetividade não é muito alta exigindo complementação de controle na cultura subsequente. O manejo químico, pensando-se na física do solo e na janela de plantio, é o mais adequado, porém o responsável pela operação deve estar atento na fisiologia da planta, se ela está ativa ou não, se tem área foliar para receber os produtos, também ficar atento ao tempo de carência deles porque deve-se esperar mais de 30 dias, em alguns casos, para entrar com o plantio, por isso considero que é uma operação complicada e delicada.”
Pensando nisso, elaboramos a seguir os principais pontos a se considerar para se obter uma destruição de soqueira ideal! Acompanhe!
Por que destruir as soqueiras de algodão?
O algodão é uma cultura perene, a planta continua crescendo e pode causar danos à próxima cultura que será conduzida na área, por isso a destruição das soqueiras do algodoeiro é uma importante medida sanitária, obrigatória por legislação federal (Portarias N0 75 de 16 de junho de 1993, N0 77 de 23 de junho de 1993 e N0 116 de 16 de junho de 1994) e regulamentada por portarias estaduais.
A destruição das soqueiras pode reduzir mais de 70% da população dos insetos-praga que poderiam sobreviver no período da entressafra, dentre essas pragas, a principal preocupação é o bicudo do algodoeiro.
O consultor Luís Henrique Kasuya da Kasuya Inteligência Agronômica, parceiro da J&H Sementes, contribuiu nesse artigo também com algumas dicas valiosas. Nas palavras dele:
Destruição de soqueira é importantíssima porque se sobrar qualquer planta ela se torna foco para bicudo, por exemplo, 1% que fique no campo em uma população de 100 mil plantas equivale a mil focos de bicudo por hectare. Depois tem a questão das tigueras, que são plantas que nascem no meio da cultura seguinte, nesse caso deve-se entrar com pós-emergente ou para evitar isso um pré-emergente.
Vamos conferir a seguir os tipos de manejo de soqueira mais utilizados.
Tipos de Manejo da Soqueira
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Manejo mecânico
Nesse processo são utilizados equipamentos para arranquio, roçagem, trituração e incorporação dos restos culturais, normalmente esse é o primeiro passo para a destruição de soqueiras, independente do procedimento adotado posteriormente.
Com o processo de arranquio e trituração dos restos culturais, isso aumenta a superfície de contato, o que acelera a decomposição, podendo esses restos serem incorporados ao solo. Caso seja feita somente a trituração dos restos culturais, é essencial a aplicação de produtos dessecantes.
Sobre a destruição mecânica, o consultor Luís Henrique Kasuya também complementa: deve-se pensar bem em relação ao manejo mecânico pela questão de aumentar a exposição daquela primeira camada de solo rica em microorganismos benéficos e nutrientes aos raios solares.
Imagem 1: Destruição de soqueira com roçadeira (Fonte: Abrapa)
Imagem 2: Arrancador de discos acoplado ao trator (Fonte: Embrapa)
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Manejo químico
O método químico é um dos mais utilizados em associação ou substituição ao método mecânico. Os principais produtos utilizados são herbicidas auxínicos de ação sistêmica como: 2,4-D, (tryclopir e dicamba) e inibidores de protox (carfentrazone e saflufenacil), utilizados de forma isolada ou associada. As aplicações sequenciais são importantes para obter melhores resultados. O 2,4-D é absorvido pelo sistema radicular por até 20 dias após sua aplicação, opção importante para as cultivares de algodão com resistência ao glifosato.
O consultor Luís Henrique Kasuya também nos pontuou algumas dicas em relação ao manejo químico! Segundo Kasuya, a destruição química deve ser feita imediatamente após a roçada com no máximo 20 minutos de intervalo, pois isso aumenta muito a eficiência do 2,4-D, uma vez que após sua aplicação ele imediatamente transloca na planta, acelerando o processo de morte. Depois deve-se esperar as próximas chuvas para que ocorra o rebrote e assim entrar com a segunda aplicação de 2,4 D. Ele ressalta também que normalmente nessa segunda aplicação a dose é completa com 2 a 2,5 L/ha de 2,4-D ou pode ser uma combinação de 2,4-D com algum inibidor de protox junto com óleo mineral, logicamente diminuindo um pouco a dose do primeiro. Quando a cultivar não tem tolerância, aí podemos combinar com 2,4D e glifosato juntos, complementa.
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Manejo cultural
O manejo cultural consiste em produção de alguma cultura em sucessão ao algodão, isso ajuda a inibir o desenvolvimento inicial das plantas sobreviventes de algodão, a soja é uma boa opção para esse tipo de manejo. Esse tipo de manejo ainda deve ser consorciado com outros métodos, como o químico ou mecânico.
Benefícios da destruição de soqueiras.
Além de ser uma prática obrigatória, visando o vazio sanitário para a cultura do algodão, o principal objetivo é reduzir a incidência de pragas e doenças, principalmente o bicudo do algodoeiro (Anthonomus grandis) que sobrevive no interior dos carimãs (maçã que não floresceu perfeitamente).
Veja abaixo alguns outros benefícios atrelados à prática de destruição de soqueiras.
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Redução de aplicações de defensivos devido a menor incidência de pragas e doenças, favorecido pela destruição das soqueiras.
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Menos competição entre a cultura que será instalada após o algodão e as plantas que rebrotam quando não é feita a destruição de soqueiras.
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Redução de custos com aplicações posteriores para controlar o rebrote.
Qual método devo utilizar para a destruição das soqueiras?
Segundo a Embrapa os métodos variam de 90 a 100% de controle de rebrota, métodos como roçagem + aplicação de herbicidas reduzem em 90% o rebrote das plantas, já métodos inteiramente mecânicos como a roçagem + arrancador de discos ou roçagem + gradagem, reduzem em até 100% o rebrote de plantas.
Porém é importante tomar alguns cuidados com o uso de manejo mecânico intensivo, isso pode acarretar problemas no perfil do solo como compactação, o famoso “pé de grade” e acelerar o processo de decomposição da matéria orgânica e ciclo dos nutrientes, necessitando maior número de aplicações de fertilizantes para suprir a demanda pela cultura subsequente.
Não existe uma resposta concreta para essa pergunta, sempre escolher a forma mais adequada para sua área visando a redução de custos e eficiência, bem como os recursos que o produtor tem disponível para fazer esse procedimento.
Importante: Rotacionar as práticas de destruição de soqueiras, utilizando técnicas com menor revolvimento do solo.
Considerações finais
A destruição de soqueiras é um procedimento essencial para o processo produtivo nas áreas cultivadas com algodão. Ele pode ser feito de várias formas, escolha sempre a que está alinhada com seus recursos e que também traga benefícios para o sistema, sem afetar a produtividade da cultura subsequente ou o sistema produtivo. É importante rotacionar essas formas de destruição, visando um sistema produtivo mais conservacionista, evitando um grande revolvimento do solo com frequência.
Esse artigo foi feito em parceria com a Agro Insight, para conhecer e saber mais, acesse: agroinsight.com.br.
BIBLIOGRAFIA E LINKS RELACIONADOS
EMBRAPA. Manejo dos Restos Culturais (soqueira) do Algodoeiro como Ferramenta de Combate às Pragas. Embrapa, Circular Técnica 41, 2006. Disponível Aqui. Acesso em 25 julho 2022.
Eliminar é preciso. Revista Cultivar, 2015. Disponível Aqui. Acesso em 25 julho 2022.
EMBRAPA. Destruição de restos culturais do algodoeiro. Embrapa, Boletim de Pequisa e Desenvolvimento 96, ISSN 0103-0841, 2015. Disponível Aqui. Acesso em 25 julho 2022.
ABAPA, Associação Baiana de Produtores de Algodão. Colher algodão e destruir as soqueiras. Disponível Aqui. Acesso em 25 julho 2022.