Algodão, uma das culturas mais importantes do país e uma das nossas paixões aqui na J&H Sementes. O ouro branco, como é conhecido no Cerrado, é ao mesmo tempo uma cultura belíssima e desafiadora. Sempre quando pensamos em manejo do algodão, uma das primeiras questões que vem a cabeça é o uso do regulador de crescimento. Sabemos que essa prática tem grande importância para a qualidade da pluma colhida, entre outras vantagens. É também motivo de muita controvérsia e muitas diferenças entre a teoria e a prática, conforme relatam os consultores e profissionais focados na parte técnica da lavoura. Pensando nisso, nós da J&H Sementes, trouxemos para você nesse artigo uma proposta diferente, justamente o contraponto, o que diz a teoria e a prática juntas afinal sobre essa questão? E como aprender esse manejo de uma vez por todas? Será que existe resposta pronta? Confira a seguir!
Mas antes precisamos fazer uma revisão para quem está chegando nesse assunto agora. Se você já é mais experiente, pode ler a partir do item 3 desse artigo!
1) O que são Reguladores de Crescimento?
Então vamos lá! Reguladores de crescimento são moléculas naturais ou sintéticas que interferem no balanço hormonal das culturas, com efeito direto no crescimento. Na cultura do algodão, o uso de reguladores ajuda a estabelecer um equilíbrio entre a fase vegetativa e reprodutiva.
O crescimento do algodoeiro se dá por fatores exógenos (luz, temperatura, água, entre outros) e endógenos (hormônios), áreas com altos teores de nitrogênio, por exemplo, contribuem para um maior desenvolvimento vegetativo da cultura e consequentemente um menor volume de colheita.
Os reguladores sintéticos desempenham funções semelhantes aos hormônios produzidos naturalmente pelas plantas, na cultura do algodão o uso de reguladores tem como objetivo principal diminuir o tamanho dos entrenós e consequentemente o tamanho da planta. Isso reflete diretamente no tamanho do dossel, garantindo melhor interceptação de luz solar e de produtos no baixeiro, o que também melhora a sanidade e qualidade da fibra produzida, além de facilitar a colheita.
Para usar reguladores na cultura do algodão alguns critérios devem ser aplicados como a altura de plantas, comprimento dos últimos cinco internódios da haste principal, razão entre a altura de plantas e o número de nós da haste principal. Não existe um critério correto, basta ser adotado algum dos parâmetros.
Atualmente os princípios ativos mais utilizados na cultura do algodoeiro são o Cloreto de Mepiquate e Cloreto de Chlormequate. Quando aplicados, esses princípios ativos agem diretamente na diminuição da velocidade de síntese e na translocação da giberelina (hormônio vegetal responsável pela formação das gemas, folhas jovens e frutos), ocorrendo menor alongamento celular, resultando em plantas menores.
2) Quais os benefícios do uso de reguladores no algodão?
O algodoeiro tem um desenvolvimento vegetativo excessivo, principalmente quando as condições do solo, água e clima são favoráveis. No momento da colheita, principalmente quando é mecanizada, o ideal é que as plantas tenham no máximo 1,30 m de altura, o que torna indispensável o uso de reguladores de crescimento.
Vários são os benefícios do uso de reguladores na cultura, dentre os benefícios estão:
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Controlar o crescimento excessivo, facilitando a colheita, plantas muito altas dificultam o processo de colheita, aumentando as perdas.
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Diminuir altura que facilita os manejos e tratos culturais.
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Reduzir a queda e apodrecimento de estruturas reprodutivas, que influencia diretamente nas perdas de produtividade.
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Aumentar a qualidade da fibra reduzindo as impurezas, como galhos, folhas e cascas dos ramos.
3) E o que diz a literatura e a teoria sobre como avaliar e acertar no regulador de crescimento?
Segundo a bibliografia pesquisada, alguns detalhes devem ser considerados para errar menos na aplicação de reguladores, a fim de alcançar os objetivos dessa prática. Dentre eles estão o momento de iniciar a aplicação dos reguladores, a dose a ser aplicada e quais produtos podem ser utilizados.
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Momento da primeira aplicação
Segundo a pesquisa do nosso time especialista, a literatura diz que a primeira aplicação deve ser em momento específico entre o aparecimento dos primeiros botões florais até o pleno florescimento, essa época é a mais indicada porque a taxa de crescimento é mais reduzida a partir da formação das maçãs, quando os recursos são distribuídos na planta com foco no desenvolvimento reprodutivo.
Normalmente a aplicação se inicia quando as plantas de porte alto atingem 30 cm a 35 cm de altura, as de porte médio de 35 cm a 40 cm e as de porte baixa de 40 cm a 45 cm de altura (Tabela 1).
Tabela 1. Porte e altura na primeira aplicação.
Porte da cultivar |
Altura na primeira aplicação |
Baixo |
40 cm a 45 cm |
Médio |
35 cm a 40 cm |
Alto |
30 cm a 35 cm |
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Parcelamento de aplicação
Seguindo a mesma orientação, o parcelamento da dose recomendada de regulador tem melhores efeitos sobre a altura das plantas. Normalmente é recomendado o parcelamento em 4 aplicações, obedecendo as seguintes porcentagens de dose, primeira aplicação (10%), segunda aplicação (20%), terceira aplicação (30%), quarta aplicação (40%).
A primeira aplicação pode ser feita seguindo o critério já mencionado antes, mas em relação a próxima aplicação, como definir essa data? Deve-se fazer o monitoramento da taxa de crescimento da planta, 5 a 8 dias após a última aplicação e, se a altura atual menos a altura anterior dividida pelo número de dias passados for maior que 1,5 cm/dia, a aplicação deve ser feita.
Fórmula para calcular a taxa de crescimento da planta
Taxa de crescimento da planta = altura atual – altura anterior / nº dias após aplicação |
Resultado > 1,5 cm/dia (FAZER APLICAÇÃO) |
Resultado < 1,5 cm/dia (NÃO É NECESSÁRIO FAZER A APLICAÇÃO) |
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Dose dos produtos
As doses devem acompanhar o porte da cultivar, doses menores são utilizadas em cultivares de pequeno porte e doses maiores em cultivares de grande porte, a fim de um resultado proporcional ao potencial de desenvolvimento vegetativo de cada tipo de cultivar (Tabela 2 ).
Tabela 2. Sugestão de doses de reguladores de acordo com o porte da cultivar
Porte da cultivar |
Dose (g/ha) do ingrediente ativo (Cloreto de mepiquat ou clormequat) |
Alto |
85 a 100 |
Médio |
60 a 85 |
Baixa |
≤ 50 |
Fonte: Embrapa
4) E o que diz a prática sobre como avaliar e acertar no regulador de crescimento?
Para responder essa pergunta, convidamos nosso Gerente Técnico, Regional Nordeste, o Eng. Agr. Rinaldo Grassi. Em suas próprias palavras, ele explica como esse manejo pode ser feito na prática:
“A primeira coisa que difere um pouco da teoria é a decisão de aplicar ou não, pois não é necessariamente obrigatório, essa é a primeira decisão. Depois a campo tem a parte visual, perceber se a planta está com o caule “mole”, com aspecto aquoso, de coloração mais para verde-limão, esse é um método de avaliação mais “perceptivo”, que se adquire mais com a experiência a campo. Os outros dois métodos são mais mensuráveis, o primeiro, que é o mais simples e mais suscetível a erro, é medir a região dos últimos três nós a partir do ápice e quando a média estiver maior do que 10 a 12 cm, partir para a aplicação. E o segundo e mais preciso é acompanhar a taxa de crescimento de entrenós por fenologias frequentes, ou seja, define-se uma taxa de crescimento por dia padrão para você conduzir a lavoura, e esse padrão tem que ser adotado caso a caso em cada fazenda, e a partir do monitoramento das fenologias semanais, você vai avaliando se essa taxa de crescimento está dentro ou não em relação ao período. Perto da época da primeira aplicação, usamos uma metodologia para avaliação da fenologia que chamamos “Raio-X” e, a partir dela, fazemos o acompanhamento da fenologia simples a cada semana, se ela ultrapassar essa taxa determinada de “X” centímetros por dia, aplicamos ou não. Geralmente essa taxa gira em torno de 1 cm de crescimento por dia na média, mas ela pode ser ajustada ao longo do tempo, não é algo fixo. É interessante que essa taxa de crescimento padrão seja móvel justamente porque dependendo da safra, como a atual por exemplo, em que o crescimento do algodão ficou “amarrado”, temos que deixá-lo crescer um pouco mais até voltar a normalidade e na hora que ele voltar a apresentar crescimento médio perto da taxa padrão, por exemplo por volta de 1 cm/dia, aí sim aplicamos mais uma dose.
A primeira dose deve ser experimental, feita logo após a primeira fenologia “Raio-X”, ela varia de região para região, mas deve ser adotada uma quantidade segura que não ofereça muito risco. Baseada nessa primeira dose, e nos próximos monitoramentos, identificando se você “segurou” a planta ou não, é que se chega à conclusão de quanto devemos aplicar na segunda entrada de regulador. Desse momento até o meio do florescimento, geralmente as doses tendem a ser crescentes, depois que a planta começa a pegar um pouco mais de carga, do meio do florescimento até o “cut-out”, as doses tendem a ser decrescentes, sendo que o “cut-out”, portanto, é a última dose de travamento da planta para colheita.”
Com essa explicação, Rinaldo deixa claro que acertar o regulador de crescimento depende de um misto de conhecimento da sua área ou da área do cliente, percepção da cultura e monitoramento constante.
5) E quais são as condições ambientais ideais para aplicação dos reguladores?
Se tem uma coisa que a teoria e a prática concordam é que a aplicação dos reguladores na cultura do algodão deve ser feita em condições de temperatura amena devido à característica de alta volatilidade dos produtos.
Preferir aplicações no período da manhã, porém sem a presença de orvalho. Para que ocorra eficiência na absorção do produto é importante que não chova depois da aplicação por pelo menos de 2 a 6 horas, dependendo do produto comercial utilizado.
Outro ponto de atenção é a mistura com outros produtos. Para evitar resultados que não se conhece, a recomendação é que a aplicação do regulador seja feita de forma isolada, sem mistura de outros produtos na calda. Também é importante não aplicar os reguladores de crescimento quando a cultura apresentar qualquer tipo de estresse, incluindo fitoxicidade causadas por outra aplicação.
6) Considerações finais
O uso de reguladores na cultura do algodão é uma prática muito utilizada e indispensável para garantir uma boa colheita, buscando todos os benefícios descritos anteriormente. Levando em consideração todas as dicas, e fazendo um balanço entre a teoria e a prática, você poderá encontrar o próprio caminho para que esse manejo aconteça sempre com sucesso, pensando sempre nos detalhes elencados aqui e principalmente, para não dizer fundamentalmente, sempre acompanhando de perto a lavoura com a ajuda de um profissional, caso não seja você!
Gostou desse conteúdo? Então fique ligado(a) que no próximo artigo iremos falar sobre como alcançar o sucesso pleno na colheita da soja! Até lá!
*Esse artigo foi feito em parceria com a Agro Insight, para conhecer e saber mais, acesse: agroinsight.com.br.
BIBLIOGRAFIA E LINKS RELACIONADOS
LAMAS, F.M.; FERREIRA, A.C.B. Reguladores de crescimento na cultura do algodoeiro. Comunicado Técnico, 121, Embrapa: Dourados/MS, 2006.
FERREIRA, A.C.B. Fitorreguladores de crescimento em algodoeiro. Comunicado Técnico, 373, Campina Grande/MS, 2014.
SANTOS, E. Reguladores de crescimento reduzem o apodrecimento das maçãs do algodoeiro e as impurezas da fibra. Notícia Embrapa. Disponível em <https://www.embrapa.br/busca-de-noticias/-/noticia/2475165/reguladores-de-crescimento-reduzem-o-apodrecimento-das-macas-do-algodoeiro-e-as-impurezas-da-fibra>. Acesse 10 fev 2022.