Como sempre falamos aqui no blog da J&H Sementes o momento da colheita é onde contabilizamos se todos os esforços durante a safra foram suficientes para resultar numa boa produtividade. Porém, o momento crucial para garantir tudo isso é o plantio. Garantir uma boa semeadura e estabelecimento da cultura aumentam consideravelmente as chances de uma boa produtividade. Após o plantio, o acompanhamento deve ser constante durante o desenvolvimento da cultura até a colheita, mas alguns cuidados específicos logo depois dessa operação são fundamentais! Já plantou? Então confira neste artigo cinco fatores para você ficar de olho e garantir uma boa produtividade na cultura da soja!
1) Pragas e doenças de início de ciclo.
Pragas e doenças de início de ciclo são aquelas que atacam a soja na germinação até 30 dias após a emergência. As pragas de início de ciclo são conhecidas por afetar o estande de plantas, o vigor e a uniformidade da cultura, o que reflete diretamente na produtividade posteriormente.
As pragas iniciais podem ser controladas através do tratamento de sementes, aplicações no sulco de plantio ou de pulverizações na parte aérea. Já para as doenças de início de ciclo são essenciais aplicações de fungicidas protetivos via tratamento de sementes.
Corós
As pragas mais comuns são os corós que consomem as raízes da soja e também os nódulos de fixação biológica de nitrogênio, reduzindo a capacidade de absorção de água e nutrientes pela planta e o desempenho em relação a capacidade de fixar nitrogênio. São observados sintomas de crescimento retardado, amarelecimento, murcha e morte de plantas.
Controle: O controle dos corós pode ser feito de maneira preventiva, com aplicação de inseticidas neonicotinoides no tratamento de sementes.
Percevejo castanho (Scaptocoris castanea)
A praga tem hábito subterrâneo, ninfas e adultos podem fazer a sucção contínua das raízes, causando amarelecimento, subdesenvolvimento e morte.
Controle: pulverização de inseticidas no sulco de semeadura e cultivo de plantas de rotação de culturas que não favoreçam a multiplicação da praga, como a crotalária.
Outras pragas
A soja no início de ciclo também pode ser atacada por outras pragas, podendo variar dependendo da cultura antecessora a soja, são essas: lagarta (Spodoptera frugiperda), lesmas, caracóis e o tamanduá-da-soja.
Spodoptera frugiperda: A espécie pode aumentar bastante nas culturas de cobertura antecessoras a soja como aveia, trigo e braquiária, sendo que a lagarta tem preferência por períodos mais secos. Essa praga costuma cortar as plântulas rente ao solo ou também se alimentar da parte aérea, podendo causar a morte da planta, com redução de estande.
Lesmas e caracóis: ocorrem com mais frequência em ambientes úmidos e frescos, em sistema de plantio direto com alta quantidade de palhada e matéria orgânica é favorável para o seu estabelecimento. Essas pragas se alimentam dos cotilédones, do caule e folíolos de plântulas, destruindo a porção apical e causando a morte de plantas.
Controle: Para o controle de lesmas, caracóis e lagartas pode ser feita aplicação de inseticidas pulverizados sobre as plantas.
Tamanduá-da-soja: podem causar danos na fase larval, pois são endofíticas, ou seja, se alimentam do interior da haste principal, já os adultos raspam e desfiam os tecidos vegetais da haste principal e podem se estender para os ramos laterais e pecíolos das folhas.
Controle: Pode ser feito no tratamento de sementes com inseticidas neonicotinoides.
Podridão radicular de fitóftora (Phytophthora sojae)
Patógeno possui estruturas de resistência que sobrevivem no solo, elevada umidade e temperaturas em torno de 25 ºC favorecem o desenvolvimento da doença a partir da semeadura, sendo que os danos podem ser observados na soja no início do ciclo até a fase adulta. Em pré-emergência, pode ocorrer apodrecimento de sementes ou flacidez e escurecimento na radícula e nos cotilédones. Sementes infectadas germinam lentamente e, quase sempre, as plântulas morrem na emergência.
Tombamento causado por Rhizoctonia (Rhizoctonia solani)
Na fase de plântula ocorre o estrangulamento da haste ao nível do solo, resultando em murcha e tombamento ou sobrevivência temporária, com emissão de raízes adventícias acima da região afetada. Essas plantas normalmente tombam antes da floração, com sintomas de reboleiras, o tombamento ocorre em torno de 30-35 dias após a emergência.
Tombamento e murcha de Sclerotium (Sclerotium rolfsii)
Pode infectar plântulas causando tombamento ou murcha. O tombamento resulta de uma podridão mole/aquosa que inicia geralmente logo abaixo do nível do solo, sintomas em reboleira. O fungo desenvolve-se ao longo da haste da planta, desde a região do colo, formando uma cobertura branca de micélio, podendo produzir esclerócios de cor creme, que se tornam marrom-escuro.
Controle: Para o controle de doenças de início de ciclo é importante o tratamento de sementes com fungicidas, rotação de culturas com plantas não hospedeiras, quando já se tem histórico de ocorrência da doença. Além disso, para algumas doenças o uso de cultivares resistentes é a melhor opção, por isso o histórico da área é importante para tomada de decisão.
IMPORTANTE: Conhecer o histórico de ocorrência de pragas e doenças da área para fazer o planejamento de cultivares resistentes e uso de produtos específicos já na semeadura (solo ou sulco de plantio), evitando grandes perdas, além do monitoramento constante no desenvolvimento inicial da cultura, monitorando nível de infestação para efetuar aplicações na parte aérea quando necessário, no caso de pragas de parte aérea.
2) Adubação de cobertura: macro e micronutrientes
Para a cultura da soja atingir o seu potencial máximo de produtividade, suas necessidades climáticas, ambientais e nutricionais devem ser atingidas e estar em equilíbrio.
Para manter o equilíbrio nutricional, adubações de correção do solo são feitas antes da implantação da cultura e as adubações de cobertura são feitas após a emergência da cultura, com aplicação à lanço. Os nutrientes que são aplicados com maior frequência na cultura são potássio, fósforo, enxofre e micronutrientes. Sendo que o fósforo é aplicado antes ou durante o plantio, o enxofre vai junto com a gessagem ou está presente junto com os fertilizantes de base, restando o potássio e os micronutrientes para serem aplicados em cobertura antes que a cultura “feche linha”. Normalmente aos 20 DAE já se entra com potássio que pode ser parcelado em duas vezes com a segunda aos 40 DAE. Já os micronutrientes devem ir em maior quantidade também na adubação de base, ficando para a cobertura (após plantio) apenas quantidades importantes em termos mais fisiológicos do que nutricionais.
É importante monitorar através de análise foliar para possíveis correções na adubação para a próxima safra.
Importante: Na cultura da soja é importante a inoculação com bactérias fixadoras de nitrogênio que conseguem suprir na maioria casos 100% da demanda por nitrogênio da cultura durante o ciclo, reduzindo ou anulando as aplicações de nitrogênio em cobertura, reduzindo custos com essa aplicação.
3) Estresses hídricos ou excesso de temperatura durante o desenvolvimento da soja
Os veranicos podem ocorrer durante o desenvolvimento inicial da cultura da soja, os fatores ambientais não podem ser controlados, porém algumas alternativas têm sido utilizadas para minimizar os efeitos do estresse hídrico nas plantas.
O uso de produtos bioestimulantes, auxiliam a planta a suportar melhor o período de estresse, a glicina-betaína funciona como um protetor celular, mantendo o equilíbrio osmótico, conhecida por amenizar estresses causados por seca, salinidade alta ou alta temperatura.
A glicina-betaína favorece que o sistema fisiológico produza substâncias destinadas a compensar a concentração de solutos no citoplasma relacionado ao meio externo para reduzir a perda de água das células.
Os ácidos húmicos também podem ser utilizados com a finalidade de reduzir o estresse hídrico das plantas de soja, pois sua aplicação favorece a formação de estruturas agregadas no solo, que faz com o que o mesmo tenha maior capacidade de retenção de água, que é liberada lentamente, conforme necessidade da cultura.
Além de outros benefícios para cultura como: melhora na estrutura de solos compactados, favorecendo o aumento do enraizamento da cultura; promove ambiente favorável para germinação e aumento dos microrganismos; aumenta a disponibilidade e absorção de nutrientes; pode apresentar comportamento hormonal em alguns casos e favorecer o crescimento de plantas.
4) Cuidado com fitotoxidez por herbicida de pós emergência.
Para aplicação de herbicidas em pós emergência alguns cuidados devem ser tomados, principalmente em relação à toxicidade para a cultura.
Misturas de caldas: A combinação de produtos mais agressivos associados a adjuvantes, adubos foliares, micronutrientes, indutores, entre outros, podem potencializar o efeito de fitotoxicidade. Evitar volumes de calda e pH de calda inadequados para os produtos utilizados.
Imagem 1. Fitotoxicidade na soja por mistura de herbicidas com adubo foliar.
Fonte: Leandro Vargas | Embrapa.
Estresse hídrico: realizar as aplicações em momentos que a planta não esteja em déficit hídrico, nesses casos a planta não tem capacidade de metabolização do produto.
Condições meteorológicas: aplicações são indicadas com temperaturas até no máximo 30ºC e umidade relativa superior a 55%.
IMPORTANTE: Se atentar ao uso de cultivares próximos de áreas tolerantes a herbicidas próximos de áreas com cultivares que não são tolerantes. Atualmente existem cultivares tolerantes aos principais herbicidas, como: glifosato, 2,4 D, glufosinato de amônio. Cultivares tolerantes têm sido utilizadas em grande escala nos últimos anos, porém o plantio de cultivares de soja convencional também é uma realidade, sempre se atentar às condições ambientais de aplicação dos herbicidas, principalmente se for auxínicos (2,4D e outros), respeitando a temperatura de 20 a 30ºC, umidade relativa maior que 55% e vento abaixo de 10 Km/h segundo recomendação do Ministério da Agricultura (MAPA) para aplicação. Além de utilizar tecnologia de aplicação adequada para vazão de calda adequada para aplicação de cada produto descrito em bula. Não é indicado reduzir volume de calda de aplicação ou aumentar velocidade do equipamento no momento da aplicação, pois ambos favorecem formação de deriva que pode acarretar em fitotoxicidade para a cultura da soja que seja mais sensível.
5) Planejamento do ano seguinte levando em conta os erros do plantio de agora!
Sabemos que cada propriedade é única e muitas vezes heterogênea, por isso é sempre importante testar novas tecnologias, populações de plantas diferentes, regulagem de equipamentos, cultivares novas, novos produtos.
É importante registrar o que deu certo, o que pode melhorar, fazer reunião com a equipe e discutir melhorias para a próxima safra com antecedência, buscando sempre melhorar os resultados com os recursos disponíveis.
6) Considerações finais
Cada cultura tem seus desafios na condução e cada safra é única. Lançar a semente ao solo é seguramente o momento mais importante da lavoura, não à toa também é um dos temas mais associados com parábolas e ensinamentos sobre a própria vida! Se tudo que se planta, se colhe, deixe a arte de produzir a melhor semente com a gente, para você se preocupar apenas com a arte do plantio!! Conte com a nossa equipe técnica para o auxílio no monitoramento da sua lavoura. Boa safra a todos nós!
Esse artigo foi feito em parceria com a Agro Insight, para conhecer e saber mais, acesse: agroinsight.com.br.
BIBLIOGRAFIA E LINKS RELACIONADOS
BORKET, C.M. et al. Seja o doutor da sua soja. Arquivo agronômico nº 5. Disponível Aqui. Acesso em 03 dez 2023.
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